Conversa com a WEDO


A Women’s Environment and Development Organization (WEDO) junta-se à rede GAGGA como uma aliada estratégica e uma organização de defesa (advocacy) global que, há mais de 30 anos, estabeleceu o foco das suas ações nos direitos das mulheres e na justiça ambiental. Bridget Burns, a diretora da WEDO, falou conosco sobre os pontos fortes com os quais a organização pode contribuir com a rede, e como elas estão animadas para trabalhar de forma mais colaborativa com as parceiras da GAGGA.

O que é relevante sobre o seu trabalho para a rede GAGGA e quais são seus objetivos?

A WEDO foi fundada a partir do reconhecimento da necessidade de mudança de sistemas e no intuito de contribuir para que mulheres líderes e feministas liderem essa mudança. Quando analisamos os espaços da política global a respeito de desenvolvimento sustentável, paz, comércio, finanças – percebemos a ausência de muita diversidade em relação a essas questões. As opiniões das pessoas do movimento popular de base não estavam refletidas nos documentos das políticas institucionais. Desde nossa fundação, na década de 1990, na Cúpula da Terra, nosso objetivo foi reunir mulheres ativistas do movimento popular de base para formar um coletivo de ação, a fim de mudar o direito a voz e acesso a esse espaço. Continuamos a fazer esse trabalho, mesmo com a mudança dos espaços políticos e permanecemos profundamente engajadas nas questões relacionadas à mudança global, tais como as negociações sobre mudança climática e em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Quais são seus principais alvos de ativismo (advocacy)?

Para influenciar a política global, nos concentramos em mudar a mentalidade de países e estados; para mudar a forma como os tomadores de decisão em todos os níveis de governo priorizam e fornecem recursos para a solução de problemas. Mas nesse trabalho, também realizamos um trabalho intenso para influenciar os movimentos dos quais fazemos parte, pois frequentemente nos encontramos atuando como uma organização dos direitos das mulheres no movimento ambientalista e como uma organização ambientalista no movimento feminista. Sabemos que os movimentos são diversos e intersetoriais. Tentamos atuar intensamente na defesa de interesses (advocacy) dentro dos movimentos, bem como nas relações entre justiça racial, de gênero, social e econômica, já que se vinculam à justiça ambiental e climática. Por exemplo, no Generation Equality Forum, muito desse trabalho destaca a razão pela qual a justiça climática deve ser central na agenda para a igualdade de gênero nos próximos cinco anos.

O que você vê como pontos fortes da WEDO? O que a WEDO espera trazer para a rede GAGGA?

Um de nossos pontos fortes como organização é que nosso ativismo (advocacy) é deliberadamente feminista e sistêmico. Contribuímos com uma análise muito consistente a respeito das mudanças de sistemas em todas as atividades e em todos os níveis. Estamos profundamente comprometidas em trabalhar coletivamente; ser feminista é trabalhar coletivamente, essa escolha é um ato político. Quando construímos nossas agendas coletivas, quando decidimos quais serão nossas principais demandas para a COP26, ou para uma negociação, sempre tentamos garantir que haja um processo coletivo para perceber quais são essas demandas.

Como já fazemos isso há muito tempo, criamos uma rede forte e um ecossistema de atores que vão desde parceiros/as do movimento popular de base, a instituições governamentais. Compreender o que é esse ecossistema e manter o foco em tentar gerar um impacto coletivo – vemos isso como um de nossos pontos fortes mais significativos. O que esperamos fazer e trazer para a GAGGA é a possibilidade de sermos um agente construtor de ecossistemas de apoio, ajudando a urdir esse tecido coletivo entre as incríveis ativistas dos movimentos populares de base que estão engajadas e recebendo apoio da GAGGA, para encontrar maneiras de promover o fortalecimento do poder entre os países e em espaços de política global, caso avaliem que esse é o lugar onde gostariam de estar.

Como você vê sua função e o que você acha interessante em relação a sua atuação como aliada estratégica?

O que é realmente empolgante é que as sinergias estão se tornando cada vez mais fortes, em termos de como esse trabalho é realizado de forma coordenada para promover empoderamento. É uma rede incrível. Acho que a inclusão da 350.org e da WEDO e outros grupos que fazem parte dela também se constitui em um processo de construção de ainda mais pontos de alavancagem para essencialmente realizarmos a mediação do poder. Trabalhando juntas, podemos garantir que a própria GAGGA tenha pontos de alavancagem poderosos em diferentes espaços dos movimentos sociais, em advocacy (ativismo) global e espaços de produção de políticas, mas também com os movimentos populares locais e campanhas de desinvestimento. O que mais me entusiasma é como estamos sendo cada vez mais coletivos. Ser uma organização aliada estratégica ajudará a garantir que nosso trabalho esteja em profunda sinergia com o trabalho mais amplo da GAGGA.

De qual trabalho essencial bem-sucedido você se orgulha, e em qual atividade-essencial (conjunta) você estaria ansiosa em participar?

Em síntese, os principais objetivos da WEDO – nossos três objetivos estratégicos são mover o poder, mover dinheiro e mover mentes. Almejamos uma mudança real em relação à aplicação de capital privado e público. Ao invés de causar dano, que seja aplicado para o cuidado, o bem-estar, bem distante de investimentos em infraestrutura de combustível fóssil e de complexo industrial militar, mas sim para o que chamaríamos de financiamento compatível com justiça climática e de gênero. Isso não é fácil e requer uma exaustiva análise dos sistemas e de todas as maneiras como os fluxos de financiamento estão indo na direção errada. Portanto, tentamos priorizar o mapeamento de onde podemos ter mais influência na mudança dos fluxos financeiros em todo o trabalho que fazemos.

Para nós, a GAGGA contribui com um modelo alternativo de financiamento que realmente tenha o potencial de alcançar aqueles/as na linha de frente que mais precisam desse financiamento, mas também é uma nova estratégia de entrada para interações que influenciem doadores, governos, bem como doadores filantrópicos. Mudar a forma de financiamento dos doadores e dos governos para que eles invistam mais nesta interseção do que em uma abordagem isolada para questões de clima ou gênero, que é o que temos experimentado por muitos anos.

Uma atividade bem-sucedida até agora tem sido nossa capacidade de nos envolvermos em situações que promovem a criação de comunidades de doadores, tal como uma recente série de webinários com governos e organizações filantrópicas. Disponibilizamos contribuições para esse espaço com base em nossa experiência específica a respeito de alguns dos mecanismos financeiros globais. A possibilidade de trabalhar com a GAGGA nos deixa realmente entusiasmadas com o potencial de criar uma agenda de advocacy realmente forte, que será capaz de influenciar uma ampla gama de atores [governos, doadores] para mudar os fluxos financeiros de modo a ter um impacto real  nas mulheres e meninas e feministas em toda a sua diversidade.

Algum recurso específico que você gostaria de compartilhar com a rede? Notícias, datas importantes?

No Generation Equality Forum, a WEDO compartilhou seis compromissos com a Feminist Action for Climate Justice (Ação Feminista pela Justiça Climática), incluindo a Feminist Agenda for People and for Planet (Agenda Feminista para as Pessoas e para o Planeta).

 

Foto cedida por Bridget Burns.


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